Tempo de leitura: 8 minutos
Estudos realizados pelo Instituto Gallup, em 2018, demonstraram que apenas 15% das pessoas economicamente ativas, em todo o mundo, encontravam-se engajadas em seu trabalho, sendo que 70% na variação das pontuações de engajamento estavam relacionadas às atitudes e comportamentos dos gestores, o que demonstra que, nem sempre a falta de engajamento está relacionada com as atividades desempenhadas, pois também pode sofrer influência do ambiente de trabalho e da forma como as pessoas são gerenciadas.
No livro Humanocracia, Gary e Zanini (2021) fazem um comparativo entre a clássica pirâmide de hierarquia de necessidades de Maslow e a hierarquia de competências no trabalho, para evidenciar que propósito, autonomia, coleguismo e oportunidade de crescimento continuam sendo os elementos essenciais para o engajamento das pessoas na vida profissional:
Na base está a obediência. Toda organização depende de funcionários capazes de seguir as regras básicas de segurança, disciplina financeira e assistência ao cliente. A competência seguinte é a diligência. Uma organização precisa de funcionários dispostos a trabalhar arduamente e a assumir responsabilidades pelos resultados. O terceiro nível é a habilidade. Para serem eficazes em seus trabalhos, os membros da equipe precisam das habilidades necessárias. Embora essas competências – obediência, diligência e habilidade – sejam essenciais, raramente criam muito valor. Vencer na economia criativa exige mais. Uma organização precisa de pessoas com iniciativa – empreendedores que sejam proativos, que não esperam ser chamados e que não sejam limitados pela descrição de sua função. Igualmente fundamental é a criatividade – pessoas que são capazes de ver os problemas com outros olhos e gerar novas soluções. Por fim, no topo, está a ousadia – a disposição de se esforçar e assumir riscos por uma causa louvável.
Essas habilidades de ordem superior são produtos da paixão, de um compromisso com algo que nos inspira, algo fora de nós que precisa e merece o melhor de quem somos. […] (GARY e ZANINI, 2021, p. 15 e 16).
Ocorre que iniciativa, criatividade e ousadia não se desenvolvem em um ambiente de trabalho hostil, sem segurança psicológica e onde não é permitido falhar.
A Psicologia Positiva aponta que o engajamento ocorre quando as atividades são praticadas com envolvimento e quando provocam um estado de flow (fluxo) no indivíduo. Segundo Seligman (2011, p. 27), o engajamento “é avaliado apenas subjetivamente” que, aliado a outros quatro elementos, tais como emoções positivas, sentido, relacionamentos positivos e realização, proporcionam o bem-estar nas pessoas.
Os seres humanos se engajam por motivos diversos e não apenas por retribuição financeira, embora esta seja, sem dúvida, um fator fundamental para a subsistência e para a segurança individual e familiar.
As atividades desempenhadas no trabalho também precisam ser compatíveis com as habilidades e limitações de cada indivíduo e em quantidades adequadas, com o objetivo de proporcionar desafios significativos na medida certa. “Se a tarefa é simples demais, entedia; se desafiadora demais, resulta mais em ansiedade que em fluxo” (GOLEMAN, 2012, p.115)
Porém, grande parte das pessoas permanece em empregos ou atividades profissionais que lhes garantem o sustento e o padrão de vida, mesmo sem engajamento e sem realização, executando tarefas que não lhe trazem um sentido ou propósito genuíno para suas vidas. Simplesmente seguem no “piloto automático”, sem se questionarem o porquê fazem o que fazem todos os dias.
E mesmo insatisfeitas, as pessoas muitas vezes não possuem clareza sobre o que traz o descontentamento na vida profissional, se é o local de trabalho, o comportamento dos gestores, a posição hierárquica que ocupa, a falta de reconhecimento, a impossibilidade de crescimento profissional, o salário que recebe ou até mesmo a atividade que exerce. Além disso, em boa parte das vezes, falta apoio, planejamento e coragem para a realização de uma mudança na carreira ou até mesmo de pequenos ajustes.
Por outro lado, as organizações, cada vez mais exigentes, buscam profissionais alinhados com o futuro, que possam bem exercer as atividades para as quais são contratados, sem perder de vista o viés da inovação e da resolução de problemas complexos.
As habilidades exclusivamente técnicas para o exercício do cargo já não bastam. É preciso ter inteligência emocional para trabalhar sob pressão e gerar resultados positivos; um mínimo de traquejo social e multidisciplinar; conhecimento em diversas áreas e criatividade; habilidade nos relacionamentos interpessoais, além de uma postura empreendedora. São novas competências, habilidades e comportamentos, que podem ser desenvolvidos, para a entrega de melhores desempenhos profissionais.
Em um mundo pós-pandemia, atualmente denominado BANI (acrônimo de Brittle, Anxious, Nonlinear, Incomprehensible) que, em português, pode ser interpretado como frágil, ansioso, não linear e incompreensível, o desenvolvimento profissional se faz necessário, tanto em decorrência das novas exigências do mercado, tais como resiliência, colaboração e diversidade em vários aspectos, quanto da própria necessidade de cada indivíduo em encontrar sentido e propósito para a realização pessoal.
O primeiro passo dessa jornada é ter clareza sobre a situação atual e a situação desejada.
E para isso, é imprescindível mapear o contexto interno, entendendo qual é a fase da vida em que se está, quais são os valores pessoais inegociáveis e quais são as insatisfações que geram a falta de engajamento no trabalho.
Também é importante mapear o contexto externo, conhecer as alternativas oferecidas pelo mercado (até para fins de comparação) e estar disponível para novas oportunidades. Entender se o momento exige uma mudança radical, uma mudança moderada ou apenas pequenos ajustes. Se há estrutura financeira, emocional, apoio familiar ou um planejamento estratégico condizentes com o tipo de mudança que se pretende realizar.
Vale analisar os recursos pessoais que foram desenvolvidos ao longo da trajetória profissional até o momento, questionando-se:
- Quais as competências e as habilidades pessoais que se tornaram pontos fortes?
- Há recursos financeiros e emocionais que possam apoiar a mudança desejada?
- Quais são os talentos pessoais que podem ser explorados, melhorados ou até mesmo incorporados nas atividades atualmente desempenhadas?
- Existe uma rede de contatos que pode colaborar nesse momento?
- Será necessário buscar ajuda profissional para apoio da tomada de decisão?
Essas reflexões são importantes para criar estratégias e driblar os medos e as crenças que muitas vezes impedem a ação.
No livro Pense de Novo, Adam Grant (2021) destaca a importância de manter a mente aberta, com humildade e curiosidade ao longo da vida para reconsiderar velhas crenças e praticar o repensamento em diversos aspectos, inclusive em relação à carreira:
NÃO PRECISAMOS ABANDONAR COMPLETAMENTE nossos planos para repensar algumas ideias. Há pessoas que adoram a área em que trabalham, mas estão insatisfeitas com o seu cargo atual. Outras talvez não queiram se arriscar a mudar de cidade ou país por causa do emprego ou do parceiro. E muitas não podem se dar ao luxo de mudar, talvez a dependência econômica de um emprego ou o apego emocional à família limitem suas opções. Mas, mesmo quando não temos a oportunidade ou a vontade de fazer grandes transformações na vida, ainda é possível fazer ajustes menores para dar novo fôlego aos nossos dias. (GRANT, 2021, p. 240)
O engajamento e o propósito no trabalho às vezes não dependem de uma mudança radical. Podem resultar, simplesmente, da clareza em se buscar significado e consciência para aquilo que já se faz no dia a dia, melhorando a comunicação e a forma de interação com as pessoas, humanizando as relações de trabalho, com respeito, reconhecimento, reciprocidade e responsabilidade.