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Constelação sistêmica é uma técnica que gera consciência plena para desbloquear os padrões comportamentais que estão impedindo o alcance do próximo nível, seja no âmbito pessoal ou profissional.
Não há qualquer relação com esoterismo, adivinhação, ou astrologia. É um método terapêutico que promove a identificação e gera clareza para o constelado sobre os fatos e comportamentos que possam estar causando os seus conflitos internos, suas dores ou dificuldades de alcançar autonomia para a superação de um determinado obstáculo.
As constelações foram desenvolvidas pelo psicoterapeuta, filósofo, teólogo e pedagogo alemão Bert Hellinger (1925 – 2019), para solucionar conflitos familiares. Atualmente, essa técnica é utilizada por diversas áreas do conhecimento em busca de clareza e soluções para os mais variados tipos de conflitos (chamados de “emaranhados” nas constelações), sejam eles familiares, estruturais ou organizacionais.
O constelador (ou facilitador) é quem guia o processo da constelação, de acordo com as informações trazidas pelo próprio constelado (cliente) sobre o seu sistema. As sessões podem ser coletivas, com a participação de outras pessoas como representantes, ou individuais, nas quais podem ser utilizados objetos ou bonecos para a representação do sistema do constelado.
Origens e Conceitos das Constelações Sistêmicas
A palavra “constelação” no contexto sistêmico, ao contrário do que muitos pensam, não tem nada a ver com as estrelas ou previsões astrológicas. Na verdade, ela significa “posicionamento”. Sua origem relaciona-se com o termo FAMILIEN AUFSTELLUNG, que em alemão significa colocação, alinhamento ou representação familiar. Quando traduzido para o inglês, esse trabalho foi denominado FAMILY CONSTELLATION, que recebeu tradução literal para o português como Constelação Familiar, referindo-se à técnica. A palavra “sistêmica” refere-se à integralidade da técnica e sua função em múltiplas áreas.
As Constelações Familiares de Bert Hellinger, criadas a partir da década de 1980, receberam, dentre outras influências, a do Psicodrama Terapêutico, desenvolvido pelo filósofo, médico e psiquiatra Jacob Levy Moreno (1889 – 1974) que, agregando a sua paixão pelo teatro, investigava os fenômenos psicológicos através da representação dramática, com o livre desempenho de papéis em terapias de grupo.
A professora e terapeuta familiar Virginia Satir (1916 – 1989), considerada a pioneira na constituição do pensamento sistêmico, inspirou e influenciou fortemente diversas terapias que hoje são conhecidas internacionalmente, tais como a própria Constelação Familiar e a Programação Neurolinguística – PNL.
Além das Constelações Familiares desenvolvidas por Bert Hellinger, foram também desenvolvidas outros tipos de Constelações, como as Constelações Estruturais, criadas, a partir de 1989, pelo casal alemão Matthias Varga von Kibéd e Insa Sparrer, e as Constelações Organizacionais, a partir de 1995, por Gunthard Weber.
Diferentemente das Constelações Familiares, que buscam a tomada de consciência do constelado, e seu alinhamento familiar, através de sentimentos e sensações, as Constelações Estruturais, focam em soluções, através de percepções obtidas em um processo de dissociação, ou seja, a análise é feita como se a pessoa estivesse olhando a situação de fora, para a obtenção de respostas a perguntas específicas sobre determinado assunto, em contextos distintos do familiar.
Já as Constelações Organizacionais, por serem aplicáveis aos sistemas empresariais e relações profissionais, possuem uma carga emocional menor e permitem testagens de soluções e simulações de vários cenários, o que não ocorre nas Constelações Familiares.
As Constelações Organizacionais podem ser utilizadas para diversas situações, tais como: definição de uma estratégia; verificação da consistência da estrutura da empresa; preparação de negociações; integração após a fusão ou aquisição de uma empresa; gestão de projetos; estudo de marcas e produtos; dinâmica nas empresas familiares; projetos de teste ou criação de uma nova empresa; diagnóstico de funções; gestão de conflitos nas organizações; processo de decisão em todas as áreas do negócio; dentre outras.
O que são Leis Sistêmicas?
São as Leis que regem todos os processos e comandos das Constelações. São 3 leis básicas que atuam ao mesmo tempo e regem os relacionamentos humanos. E quando “desrespeitadas”, causam desordens nos sistemas familiares ou organizacionais.
1) LEI DA ORDEM E HIERARQUIA
Essa lei estabelece que aquele que chegou primeiro ao sistema familiar tem precedência em relação aos que chegaram depois. Segundo Bert Hellinger, “o ser é definido pelo tempo e, através dele, recebe seu posicionamento”, “desse modo, identificamos quem é o primeiro, o segundo, o terceiro, ou a sequência cronológica, num sistema”. Nesse sentido, pai e mãe serão sempre “maiores” que os filhos, assim como os irmãos mais velhos são “maiores” que irmãos mais novos. Quando essa ordem é desrespeitada, ou seja, quando, por qualquer motivo os mais novos se sobrepõem aos mais velhos, ou quando alguém é desconsiderado em seu papel dentro de um sistema, começam os conflitos familiares (os chamados “emaranhados” nas constelações).
O mesmo ocorre nas estruturas hierárquicas das organizações. Os fundadores de uma empresa terão sempre precedência em relação aos que vieram depois. Os gestores são “maiores” que os seus colaboradores, pela posição que ocupam, e para o convívio saudável das estruturas organizacionais é preciso que cada um conheça e exerça o seu papel dentro do sistema. Caso contrário, o desalinhamento gerará conflitos.
2) LEI DO EQUILÍBRIO (DAR E RECEBER)
A balança entre o dar e o receber, deve estar equilibrada nas relações humanas. Deve-se levar em consideração que nem todos podem dar tudo, e que também nem todos podem receber tudo. Cada um está limitado naquilo que tem para oferecer ao outro e naquilo que está apto a receber do outro.
O equilíbrio também deve ser buscado entre as energias do masculino e do feminino em cada indivíduo, assim como nos relacionamentos amorosos. A energia do masculino relaciona-se com o direcionamento, foco e objetividade, enquanto que a energia do feminino está ligada à flexibilidade, à fé e ao amor incondicional. Todos os seres humanos são dotados dessa dualidade e o desequilíbrio dessa balança pode desencadear bloqueios pessoais, familiares ou profissionais.
Os padrões de comportamento são transmitidos de geração em geração e quando há desalinhamento em um sistema familiar isso também pode interferir nos casamentos, na relação com os filhos, e gerar um ciclo vicioso de comportamentos desequilibrados por muitas gerações.
Nas empresas ou organizações, o equilíbrio entre dar e receber é de extrema importância para que líderes e liderados possam construir uma relação profissional justa e eficaz. Os desequilíbrios prejudicam os relacionamentos profissionais e, consequentemente, os resultados esperados.
3) LEI DO PERTENCIMENTO
O pertencer é uma necessidade básica do ser humano. No âmbito familiar, cada pessoa que nasce ou é vinculada a um sistema, necessita ser reconhecida como membro integrante e respeitada em seu papel dentro desse mesmo sistema. Ninguém pode ser excluído. O esquecimento ou exclusão de um ente familiar, seja por um vício que ele possua ou por um ato que tenha cometido, ou em situações de aborto, rejeição de filhos, de pais, abandono de idosos, não importa o motivo, provocará consequências em outros membros da família, pois o sistema tende a buscar uma compensação para encontrar o equilíbrio.
Nas relações empresariais ou organizacionais, todos os integrantes têm o direito de pertencer, desde que, exista um equilíbrio entre o dar e o receber, entre empregado e empregador, e que haja o cumprimento de papéis e de tarefas de forma satisfatória. Porém, a preservação de uma organização em uma situação de emergência tem prioridade sobre o direito de pertencer dos indivíduos. Também tem prioridade o grupo profissional ou o departamento que exerça papel mais importante para a preservação e continuidade do sistema.
Em suma, as constelações sistêmicas, utilizadas pelas mais variadas áreas e para as mais diversas situações, proporcionam o autoconhecimento e ajudam tanto na evolução pessoal, quanto profissional, pois geram clareza, facilitando o alinhamento dos sistemas e dos comportamentos.
Porém, é preciso ter em mente que não é uma técnica mágica ou milagrosa! A mudança de comportamento sempre exigirá esforço e atitude de quem a almeja. Sem ter a consciência plena daquilo que impede ou bloqueia o crescimento pessoal ou profissional e sem entrar em ação para modificar antigos padrões de comportamentos, nada acontece.
Espero que essas informações possam lhe proporcionar reflexões preciosas sobre os seus sistemas familiares e profissionais e sobre os comportamentos que vêm adotando em sua vida. Será que eles são mesmo seus ou foram herdados inconscientemente de seus pais ou outros familiares?
Um grande abraço!
Bia Veríssimo